terça-feira, 5 de julho de 2016

EURÍPEDES BARSANULFO 1º de maio de 1880 - 1º de novembro de 1918 “Em 1907, Eurípedes Barsanulfo fundou o Colégio Allan Kardec, primeiro colégio espírita do Brasil. Como uma personagem muito à frente de seu tempo, Eurípedes, com suas salas mistas, buscava ultrapassar o sexismo vigente. Com o ensino de História das Religiões demonstrava a necessidade de aprender a convidar e respeitar a alteridade. Ao focar no desenvolvimento da autonomia, incentivava seus alunos a atuarem em grupos de estudos e aqueles que se destacavam atuavam através das monitoras numa prática de aprender a aprender. Buscava ressaltar a necessidade e valorizava o trabalho voluntário (aprender a fazer)nas práticas da farmácia homeopática mantida por ele, pela família e alunos, servindo à população de forma gratuita. Utilizava a observação da natureza como prática de aplicação do método científico, aliado ao ensino de astronomia, possibilitando a percepção de nossa cidadania planetária (Morin). A utilização da arte, além de possibilitar a aproximação do belo, aparecia em seu formato terapêutico, possibilitando, principalmente através do teatro, a reflexão das ações do sujeito, favorecendo aprender a ser, o colocar-se no lugar do outro, a discussão profícua em torno da ética, da poiesis, e o desenvolvimento da oratória. Resgatar a história de Eurípedes pode, enfim, auxiliar-nos no debate deste início de século XXI sobre a reformulação do currículo atual, demonstrando-nos mais de cem anos após suas práticas, que a educação holística é um caminho possível.”¹ Todos os relatos sobre Eurípedes Barsanulfo dão conta de que ele foi um ser humano extraordinário. Nascido em 1º de maio de 1880, em Sacramento, pequenina cidade nas proximidades de Araxá, iniciou sua vida como católico fervoroso. Viveu apenas 38 anos, desencarnando vítima da febre espanhola. Possuía indiscutíveis atributos de líder. Atuou na área social, no jornalismo, na política, na educação, sempre saudado por todos com que ele conviviam. Converteu-se ao Espiritismo aos 25 anos, apresentando excelentes atributos mediúnicos que exercia com invulgar espírito de caridade. Há referências a anteriores reencarnações em que já se caracterizou como orador inspirado, com amor profundo aos ensinos de Jesus. Educador avançado para a sua época (talvez até para os dias de hoje), o Colégio Allan Kardec, vencidos certos preconceitos tornou-se o mais importante da cidade. Eurípedes, sem qualquer formação universitária, lecionava português, matemática, ciências naturais, botânica, geologia, zoologia, paleontologia, francês, inglês, espanhol, latim, química, física, história, dentre outras disciplinas. Perguntamos: de onde vem tanto e tão enciclopédico conhecimento? De onde vem tal sabedoria incomum? Pelo menos em uma encarnação, foi muito culto, como pastor protestante, chamado “A glória da Suíça.”² Muito mais do que ensinar nomes, datas, fórmulas, equações, conceitos, Eurípedes era um despertador de vontades, um imã atraindo pessoas não para si, mas para si mesmas, para a sua essência. A sua compreensão do processo educativo passa pela descoberta do afeto que se alimenta de afeto, pelo amor que se alimenta de amor. Conta-se que nos finais dos anos letivos não havia avaliação escrita. O conhecimento era testado em gincanas, as quais mobilizavam pessoas do estado de São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais, que se reuniam para o festival de conhecimentos. Eurípedes é citado com respeito e admiração, atualmente, pelo professor José Pacheco, criador da Escola da Ponte, de renome internacional. Os estudiosos destacam em Barsanulfo os padrões de respeito e de aceitação do outro para que haja o desenvolvimento do próprio educando. Educar é esse compartilhar integrador que faz o ser desabrochar para sentir o gosto bom do bem. No processo, autoconstruído, o educando deve conseguir o discernimento necessário para tomar por si as decisões que o encaminham à felicidade para a qual foi criado. O bem é algo que se aprende e é necessário para que haja evolução. Diz Kardec: “Não só ela [a verdadeira caridade] evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta; é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação”.³ Na verdade, para Eurípedes, o Espiritismo é um sistema novo de pensamento e a educação é um caminho de ternura que passa por uma autoeducação, uma experiência de viver em que a função do Educador é despertar o impulso de autoeducação do educando.  César Reis é professor universitário, membro do Conselho Superior da FEB, Presidente do ICEB e Diretor da Revista Cultura Espírita Referências ¹ In http://www.iserj.edu.br – publicado em 07/07/2015 – Visão de Cristiane Pedrosa – apresentado em 02/07/2015. Acesso em 17/04/2016. ² Couto do Vale, Nadja do. Pestalozzi e Lavater: Amizade e Consciência Política. Revista Cultura Espírita. Ano VII, n. 83, p. 5-7, fev. 2016. ³ KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 131. Ed. 3. Imp. (Edição Histórica). Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013. Cap. XV, ítem 10. p. 213. Bibliografia LANG, Alice Beatriz da Silva Gordo. Espiritismo no Brasil. Cadernos CERU, [s.l.] v. 19. n.2, p.176, dez. 2008. ISSN 1413-4519. BIGHETO, Alessandro Cesar. Eurípedes Barsanulfo, um educador de vanguarda na Primeira República. Bragança Paulista: SP. Editora Comenius, 2007. NOVELINO, Corina. Eurípedes, o homem e a missão. Araras: IDE, 1977. RIZZINI, Jorge. Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da caridade. São Bernardo do Campo: SP, Editora Correio Fraterno do ABC, 1979. FERREIRA, Inácio. Subsídio para a história de Eurípedes Barsanulfo. Uberaba, MG: Departamento da Comunhão Espírita Cristã, 1962. TEXTO RETIRADO DA REVISTA CULTURA ESPÍRITA – Nº 86 ANO VIII - MAIO DE 2016